Cultivo elevado e semi-hidropônico conquista produtores do maior polo de morangos do estado 28/06/2021 - 11:24

A Região Metropolitana de Curitiba é o maior polo de produção de morangos do estado. Atualmente uma boa parte da fruta não vem do cultivo tradicional em canteiros, mas de bancadas elevadas e protegidas por estufas. A técnica do cultivo elevado e semi-hidropônico confere mais conforto aos trabalhadores, tem alta rentabilidade e possibilita maior controle dos plantios, diminuindo o uso de agrotóxicos para combater pragas e doenças. 

Foram essas vantagens que atraíram a atenção de Rosana Gabardo Pallu, de Mandirituba, que até dois anos atrás era confeiteira. Ela viu no cultivo de morango a possibilidade de concretizar o desejo de viver da produção agrícola e aumentar sua renda. Depois de passar por cursos de capacitação promovidos pelo Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) e IDR-Paraná (Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná - Iapar-Emater) Rosana e o marido, José Marcos, construíram uma estufa para plantar morangos, no sistema semi-hidropônico elevado. 

Hoje a propriedade do casal produz 1000 quilos de morango por mês e Rosana tem compradores certos. Enquanto a cooperativa do município é formalizada, os morangos da propriedade são vendidos para alguns intermediários e também para uma rede de supermercados.  O negócio vai tão bem que o casal já está finalizando uma outra estufa, com mais dez mil plantas. "Estamos tendo uma boa renda com o morango e estou feliz por trabalhar no campo. Nesse sistema de cultivo elevado o trabalho é muito fácil. Trabalhamos em três pessoas, meu marido, eu e minha irmã", disse Rosana.  

Menos agrotóxico
Segundo informações de Luis Gustavo Lorga, do IDR-Paraná de Campo do Tenente, a Região Metropolitana de Curitiba concentra 800 produtores de morango. Ele disse que a popularização do cultivo elevado e semi-hidropônico tem se dado pelas vantagens que oferece ao proprietário rural. "É um método ergonômico. Como a bancada fica a quase um metro do solo o trabalhador pode fazer a colheita e o manejo em pé. Isso aumenta a capacidade produtiva por pessoa. No cultivo tradicional, em canteiros, um trabalhador consegue cuidar de 2.000 plantas. Já no cultivo elevado esse número salta para 4.000 plantas por pessoa. Para o produtor rural que usa mão de obra familiar isso é uma grande vantagem", explica.

Outro ganho para o produtor, segundo Lorga, é que o cultivo é feito em bolsas plásticas (labs) ou calhas, sobre um substrato previamente preparado. As plantas recebem todos os nutrientes que precisam por meio do sistema de irrigação. "Dessa maneira tem-se um ambiente mais controlado e plantas mais saudáveis, com baixa incidência de doenças e menos pragas. O uso de agrotóxicos também diminui, gerando mais saúde para o produtor", esclarece o extensionista. Ele acrescenta que o agricultor pode adotar o MIP (Manejo Integrado de Pragas), usar caldas alternativas com produtos a base de microorganismos biológicos, eliminando o uso de produtos químicos. "Só não é orgânico porque as plantas recebem adubos solúveis, mas o produtor pode eliminar totalmente o uso de agrotóxicos", destacou. As bancadas também ficam protegidas pela estufa. o que evita problemas com excesso de umidade. 

Lorga ressaltou que essa tecnologia é indicada sobretudo para pequenos espaços. Segundo ele, uma estufa com 350 metros quadrados, onde 3.500 plantas são cultivadas, pode render até R$ 35.000 brutos por ano. Para esse cálculo, ele considera uma produtividade de um quilo de fruta por pé, ao ano, e um preço médio anual de R$10 por kg. 

Pandemia
No entanto, a pandemia vem causando a elevação dos custos de instalação das estufas de morango e dos insumos. Além disso, observa-se uma certa escassez da mão-de-obra para instalar as estufas. "Fertilizantes e mudas têm custo em dólar. Também tem faltado material de ferragem para a construção das estufas ", explicou o extensionista. Apesar desses problemas, Lorga acredita que o cultivo elevado e semi-hidropônico ainda é vantajoso. Ele lembra que no cultivo no solo o produtor precisa fazer a rotação de culturas, de três em três anos, para evitar a infestação de nematóides o que exige novas áreas frequentemente. Já o substrato do cultivo elevado tem uma vida útil de dois anos. "Se bem manejado pode durar um pouco mais", afirmou Lorga. Ele acrescentou que as estufas podem ser construídas com estruturas de metal galvanizado ou eucalipto tratado.  

As mudas de morango são importadas do Chile, Argentina e Espanha e sua longevidade vai depender do manejo feito pelo produtor. Atualmente são plantadas na Região Metropolitana de Curitiba as cultivares San Andrea e Albion. O extensionista ressalta que produtor deve se planejar, adequando-se aos períodos de maior oferta de mudas. O substrato pode ser encontrado pronto no mercado. Lorga informou que o IDR-Paraná acompanhou a produção desse material por uma indústria de São José dos Pinhais. Dessa maneira, foi possível fazer um produto que usa material vegetal reciclado e substituir a vermiculita importada por espuma fenólica moída, o que diminuiu os custos.

Comercialização
A produção de morango começa em junho/julho e aumenta gradativamente até atingir o pico entre dezembro e janeiro. O maior problema na comercialização ainda é a presença dos intermediários. Lorga disse que o IDR-Paraná acompanha a negociação de um grupo de trinta produtores com a Ceasa. O objetivo é que a Cooperativa dos Produtores de Mandirituba passe a vender a produção de morango no Mercado do Produtor, na Central de Curitiba. Outra alternativa para o produtor é beneficiar a fruta. "Ainda vem muito morango do Rio Grande do Sul e Minas Gerais, derrubando o preço no fim do ano. Uma opção é transformar a fruta em geleias e polpas", explicou.  O extensionista disse que ao longo do ano a produção local é insuficiente para abastecer o mercado, o que permite a entrada da produção de outros estados. "O grande problema é que esse morango que vem de fora é cultivado no solo. Muitas vezes as plantas recebem pulverizações preventivas até com produtos não autorizados. Muitos sequer têm rótulo e é impossível determinar sua origem", concluiu Lorga.

A Coop Hort, de São José dos Pinhais, e IDR-Paraná estão trabalhando na definição de um protocolo de sanidade para o morango. A ação é parte do Pro Metropoli, programa que incentiva ações de desenvolvimento para os municípios da RMC. A cooperativa também vai facilitar o acesso dos produtores a insumos, produtos biológicos e embalagens. Luis Gustavo Lorga responde pela presidência do grupo técnico do morango do Pro Metrópole e acompanha todo o trabalho de perto. Ele afirmou que a intenção é instituir parâmetros de sanidade, estabelecer instrumentos de rastreabilidade, orientações de manejo e higiene para aumentar a renda do produtor e diminuir o uso de insumos químicos no cultivo de morango.

Reportagem: Roberto Monteiro