Especialistas falam sobre superação de limitações climáticas para produzir no Arenito Caiuá  30/11/2020 - 15:08

A região Noroeste do estado se estende por 3,2 milhões de hectares, 16% do território paranaense, e abrange 107 municípios. Ali estão localizados 40 mil estabelecimentos agropecuários que dividem sua ocupação em lavouras temporárias e permanentes, produção pecuária e florestal. Por sua formação geológica, a região é também conhecida como Arenito Caiuá.

Os solos do Arenito têm elevada capacidade de drenagem, baixa capacidade de retenção de água e são bastante sensíveis ao processo erosivo provocado pelas chuvas. As chances de erosão ocorrem particularmente quando as lavouras e as pastagens não cobrem a superfície do solo, mesmo que temporária e parcialmente.

O clima na região se caracteriza por um verão quente, com temperaturas elevadas em janeiro e fevereiro. A umidade relativa do ar é normalmente mais baixa, sofre com chuvas irregulares. O inverno é relativamente seco, e raramente com temperaturas muito baixas, mas ocasionalmente podem haver geadas. Essas características ambientais típicas combinadas acabam estimulando o consumo e a degradação da matéria orgânica em taxas mais elevadas.

“A matéria orgânica cumpre papéis importantes, seja na melhoria da retenção de nutrientes, na recuperação e manutenção da estrutura do solo, na resistência a compactação e, acima de tudo, na retenção e no fornecimento de água às plantas”, lembra o engenheiro agrônomo e pesquisador Jonez Fidalski, do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná - Iapar-Emater (IDR-Paraná) de Paranavaí. Ele ressalta que é preciso respeitar a capacidade do uso desses solos. "Para se ter sucesso na região Noroeste é necessário ter cuidado na seleção das atividades, com planejamento agrícola apurado, escolha criteriosa do pacote tecnológico, adequando-o a essas condições. É necessário fazer o manejo do solo para melhorar os teores de matéria orgânica e cuidar na seleção das espécies e dos materiais genéticos disponíveis para utilizar no cultivo”, observou.

De acordo com Pablo Ricardo Nitsche, pesquisador do IDR-Paraná e especialista em climatologia, a região Noroeste possui ainda algumas peculiaridades. Segundo ele, os registros históricos apontam um equilíbrio estreito entre a água das chuvas e a umidade que o solo e as plantas perdem para a atmosfera. “Soma-se a isso o fato de os solos dessa região serem arenosos e com características de baixa retenção hídrica. Em anos que chove pouco, não se consegue armazenar água no solo. Isso acarreta o risco de existir déficits hídricos mais graves a algumas culturas, além das pastagens”, destacou. Ele frisa que é desnecessário e custoso apostar apenas no cultivo em anos de boas chuvas (os contratos de arrendamento de curtíssimo prazo), sem fazer um bom planejamento da exploração agrícola nesses sistemas.

"Quando ocorrem prejuízos não são só os arrendatários que perdem, os proprietários das terras acabam pagando a conta juntos", destaca.
Pesquisadores, profissionais da assistência técnica e produtores rurais têm tido êxito ao adotarem técnicas que propiciem a manutenção e a elevação dos níveis de matéria orgânica nos solos do Arenito Caiuá. "É um ponto chave para explorar a região de maneira racional e sustentável, permitindo que se amplie a capacidade de uso e se obtenha sucesso", afirma Nitsche.

A implantação de sistemas de Integração Lavoura, Pecuária e Florestas (ILPF) vem desempenhando um papel importante no caminho do uso sustentável dos solos do Arenito. Émerson da Silva Nunes, gerente técnico da Cocamar Cooperativa Agroindustrial, afirma que essa prática tem um grande potencial, ao viabilizar a intensificação da pecuária com sua integração com a produção de grãos e o cultivo florestal. “Isso tem sido possível respeitando as limitações de clima e solo, com assistência técnica especializada e adoção efetiva das tecnologias preconizadas e já disponíveis. Os cooperados da Cocamar têm encontrado caminhos para melhorar seus rendimentos e a sustentabilidade com essas atividades no Arenito Caiuá", contou Nunes.

O cultivo de mandioca também é frequente na região, pois oferece um bom retorno econômico a curto prazo. No entanto, alguns profissionais afirmam que seu uso na reforma de pastagens não tem resultado em muitos benefícios. Para o engenheiro agrônomo do IDR-Paraná, Antônio José Coelho de Castro, o seu cultivo tem reduzido drasticamente os níveis de matéria orgânica do solo por causa do revolvimento para o plantio e a colheita. "O cultivo de mandioca no sistema de ILPF é interessante, mas é preciso ser feito num patamar de tecnologia que permita a recuperação do sistema”, destacou.

Esse cuidado com o solo começa no preparo para o plantio. De acordo com Simony Lugão, engenheira agrônoma e pesquisadora do IDR-Paraná, lembra que o momento de preparo de solo para o cultivo de mandioca deveria ser aproveitado para se fazer a correção do solo. Ela também destaca que é imprescindível injetar raízes no perfil do solo. “É preciso produzir raízes em profundidade no solo. É isso que proporcionará a ciclagem dos nutrientes, além de aumentar a capacidade de retenção de água nos solos”, afirmou. Segundo a pesquisadora, o plantio da mandioca deve ser planejado e realizado no sistema de plantio direto, e o uso de pastagens como as braquiárias, que têm raízes mais agressivas e profundas, se encaixam perfeitamente no sistema. Ela aconselha o uso racional de fertilizantes na pastagem e um correto manejo do pastejo, para que as gramíneas possam cumprir o papel de melhorar o perfil do solo.

Para incrementar a produção e rentabilidade nesse sistema existem alternativas, como é o caso dos milhetos e sorgos, destinados à produção de grãos, ao pastejo ou à produção de forragem para o estoque de alimento. 

O zootecnista Márcio Antônio Baliscei, do IDR-Paraná, lembra que as gramíneas cultivadas para o pastejo, possuem uma maior capacidade de suportar os estresses hídricos provocados pelas irregularidades nos regimes das chuvas. "Não é por acaso que predomina o cultivo de pastagens nessa região. Investir na sua recuperação e produção também é uma alternativa”. Ele acredita que a introdução do componente florestal é fundamental, pois melhora as condições para o desenvolvimento das gramíneas, dá conforto térmico aos animais e proporciona melhor desempenho para o rebanho.

A família Vellini é referência na região Noroeste. Há quase 20 anos os produtores desenvolvem um projeto de ILPF no município de Jardim Olinda. Nas melhores safras (2018/19) eles alcançaram produtividade média acima de 70 sacas de soja por hectare (170 sacas por alqueire), mantendo mais de 3 unidades animais por hectare em sistema de cria, recria e engorda em 700 alqueires cultivados. Isso demonstra que é possível, além de trabalhar a produção de grãos, incrementar a produção de pastagens e a produção animal, permitindo avançar sobre áreas que antes eram vistas com menos produtivas.

A Expotécnica.com, organizada pelo IDR-Paraná, organizou um bate-papo via web que reunirá especialistas no tema, além de contar com o produtor Vellini para compartilhar sua experiência. A Live denominada “O Clima no Arenito Caiuá e as estratégias para superar suas limitações” será realizada nesta quinta-feira (03/12), a partir das 09:00 h, no YouTube, pelo Link:  https://www.youtube.com/watch?v=VRQJiHLHMmw 

Reportagem: Roberto Junior Monteiro