Nota Técnica - Cultivo do Trigo no Paraná para a safra de 2021: opção viável para áreas ociosas e regiões com impossibilidade da semeadura do milho segunda safra 19/03/2021 - 17:11

O Brasil consome anualmente 11,8 milhões de toneladas de trigo, porém produz cerca de 6,2 milhões de toneladas, sendo o estado do Paraná o principal produtor, contribuindo com 50% da produção nacional. Para atender o consumo interno é necessário importar trigo, de modo que em 2020 o Brasil importou 6,8 milhões de toneladas, acarretando o envio de recursos financeiros escassos para o exterior, os quais deixam de ser utilizados no Brasil e na cadeia produtiva deste importante cereal de inverno.

Considerando que a área cultivada com a soja no Paraná é de aproximadamente 5,5 milhões de hectares e que no inverno o milho segunda safra ocupa 2,28 milhões de hectares e o trigo apenas 1,12 milhão de hectares, fica evidente que a área de trigo ou de outros cereais de inverno, como a aveia e o triticale, poderia ser significativamente expandida em detrimento do pousio.

O atraso na colheita da soja devido a problemas climáticos como a falta de chuvas no início da época da semeadura e posteriormente períodos longos com dias nublados e excesso de chuvas, atrasaram o desenvolvimento da planta retardando a colheita. Esse atraso está prejudicando a semeadura do milho segunda safra em todas as regiões do Paraná onde há o cultivo do milho safrinha, porém com mais intensidade nas regiões Sudoeste, Oeste e Norte do Estado.

Uma opção para os agricultores que estão enfrentando o problema da semeadura do milho segunda safra, dentro do prazo estabelecido pelo Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC), é o cultivo de cereais de inverno. A cultura do trigo é a principal alternativa de produção para a safra de inverno no estado do Paraná e se encaixa perfeitamente no período de abril a outubro, dependendo da região de cultivo, em sucessão à soja.

A rotação de culturas é altamente desejável e os benefícios da palhada do trigo no solo vão desde a proteção contra a erosão, a manutenção da umidade, a redução da temperatura do solo, favorecendo os processos biológicos como o crescimento de raízes e a fixação do N, e a redução da população de plantas daninhas.

Some-se a isso a possibilidade de um retorno financeiro de exceção, uma vez que desde 2007 a cultura do trigo não apresentava uma rentabilidade tão alta: 49% considerando os custos variáveis estimados em novembro de 2020 pelo Departamento de Economia Rural do Paraná – DERAL/SEAB. Essa lucratividade é estimada com os preços recebidos de R$76,00 a saca em várias praças paranaenses ao longo de fevereiro de 2021, porém é preciso lembrar que estamos em um período de entressafra, e que esse nível de preço deve ter dificuldade de se sustentar com a entrada da safra, em setembro.

Disto, deriva a importância de travar os preços de ao menos parte da produção, se possível, tentando aproveitar o momento tanto de apreciação do câmbio quanto das cotações internacionais.

Outro fator econômico que deve ser levado em consideração é o possível ganho de produtividade na soja cultivada em sucessão ao trigo, pois a oleaginosa também vem registrando cotações bastante remuneradoras.

A indicação técnica para o cultivo de trigo é de diversificação de épocas de semeadura e de cultivares, visando dar mais estabilidade ao sistema de produção. Para o Paraná foi editada o Ato Portaria Nº 6, de 11 de janeiro de 2021, que aprova o ZARC do trigo de sequeiro para o estado do Paraná. Para acessar a portaria clique aqui.

Também visando facilitar a consulta das melhores épocas por município e por espécies, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) disponibiliza um aplicativo chamado ZARC – Plantio Certo, que pode ser baixado nos aparelhos celulares, facilitando assim a consulta de Épocas, de acordo com o Risco Climático em até: 20, 30 ou 40%; com o Ciclo das Plantas (1) precoce, (2) médio e (3) tardio; e com o Tipo de Solo (1) Arenoso, (2) Médio e (3) Argiloso. No caso do trigo, o aplicativo fornece as empresas obtentoras de cultivares, com suas indicações técnicas para cada situação de cultivo.

O Painel de Indicação dos Riscos do ZARC é uma ferramenta de consulta e de planejamento para as safras, uma vez que podem ser acessados os riscos de cada período do ano (escala decendial), para cada município, cultura, tipo de solo e grupo de cultivares. Nos casos em que o risco é acima de 40%, a lavoura não é contemplada pelo seguro agrícola.

O estado do Paraná é dividido em três grandes macrorregiões em relação a adaptação e indicação de cultivares de trigo;

Região 1: Centro-Sul, fria e úmida, com clima temperado e altas altitudes, representada por Ponta Grossa, Irati e Guarapuava; Semeaduras indicadas para os meses de junho e julho;

Região 2: Central, moderadamente quente e úmida, intermediária em clima e altitudes, representada por Campo Mourão, Cascavel e Pato Branco; Semeaduras indicadas para os meses de abril a junho;


Região 3: Norte/Oeste. Quente e moderadamente seca, com clima subtropical e baixas altitudes representada por Londrina, Maringá e Palotina. Semeaduras indicadas de abril a maio.

Optar pelo cultivo de trigo dentro do zoneamento evita risco econômico excessivo. O Seguro Rural é uma ferramenta de gestão de riscos para o agricultor, pois permite a recuperação do capital investido em caso de adversidades climáticas. Uma das ferramentas para viabilizar o seguro rural é o ZARC, ou seja, caso o empreendimento seja instalado fora das definições do ZARC, estará desamparado de seguro.

O IDR-Paraná, por meio de seus Projetos de Melhoramento Genético, desenvolveu várias cultivares de trigo e estão disponíveis para os agricultores as seguintes cultivares: IPR 144 (trigo panificador, com moderada resistência a ferrugem da folha e a brusone); IPR Potyporã (cultivar de ampla adaptação, com qualidade panificadora e altamente produtiva, sendo que alguns agricultores na safra 2020 obtiveram produtividade média de 6.370 kg/ha e peso de mil sementes de 39g); IPR Panaty (cultivar produtiva, com qualidade panificadora e com cor de grão branca); IPR Catuara (trigo melhorador de farinhas e excelente desempenho nas regiões mais quentes do Paraná). Para mais informações sobre as cultivares de trigo, triticale e aveia do IDR-Paraná, bem como os parceiros multiplicadores de sementes, clique aqui.

Para a melhor tomada de decisões quanto a condução de sua lavoura de trigo ou triticale, acessar “Informações Técnicas para Trigo e Triticale”, publicadas anualmente pela Comissão Brasileira de Pesquisa de Trigo (clique aqui).

Equipe técnica:
Carlos Hugo W. Godinho – DERAL/SEAB
Carlos Roberto Riede - IDR-Paraná/SEAB
Edmar W. Gervásio – DERAL/SEAB
Edivan Jose Possamai– IDR-Paraná/SEAB
Germano do Rosario F Kusdra – IDR-Paraná/SEAB
José dos Santos Neto – IDR-Paraná/SEAB
Marcelo Garrido – DERAL/SEAB
Osmar Schultz – IDR-Paraná/SEAB
Pablo Ricardo Nitsche– IDR-Paraná/SEAB