Série Mulheres Rurais: Como o IDR-Paraná fortalece mulheres a se tornarem líderes no agronegócio 15/10/2020 - 16:28

19% de todos os estabelecimentos agropecuários no Brasil são comandados por mulheres, segundo o último Censo Agropecuário divulgado pelo IBGE, em 2017. O número aumentou desde o Censo anterior, em 2016, quando as mulheres comandavam 13% das propriedades rurais do país. Elas também estão ao lado dos maridos fazendo a gestão compartilhada e tomando as decisões nas propriedades. Em 20% dos mais de 5 milhões de estabelecimentos agropecuários, o casal decide unido, isto representa em 1.029.640 locais.

E é nesta estatística que está uma produtora rural de Cruz Machado, no Sul do Paraná. Juliana Mikolaiewski Dziurza, de 30 anos, decide junto com o marido o futuro da propriedade que sustenta a família. Ela recebe assistência técnica dos extensionistas do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná – Iapar-Emater de Cruz Machado há, pelo menos, cinco anos. Os profissionais a ajudaram a investir na propriedade melhorando a infraestrutura e a diversificar a produção.

“Eu nasci no campo e nunca quis sair do meio rural. Trabalhando aqui, sempre vi a necessidade de as mulheres tomarem um pouco mais à frente dos negócios e não só dos cuidados da casa. Nós temos uma visão diferente, porque conseguimos observar coisas que passam despercebidas aos olhos dos homens. Então, eu achei que poderia dar certo dividir o comando da propriedade com o meu marido”, conta a produtora rural.

Juliana recebeu orientação para começar com a atividade leiteira, trabalhar com fruticultura e com olerícolas. “Eu tive o apoio do IDR-Paraná desde o início recebendo orientação, participando de cursos, de formação e da assistência técnica. Isto melhorou bastante o trabalho na propriedade”, avalia Juliana.

O trabalho do IDR foi além dos serviços de ATER com a Juliana. Isto aconteceu quando se percebeu o destaque que a produtora rural vinha tendo à frente da Cooperativa Agroecológica Vale do Iguaçu – COOAVI, com 55 cooperados produtores de hortaliças orgânicas e, também, assistida pelo IDR-Paraná por meio do Mais Gestão.

Francieli Gervasoni, economista doméstica do IDR-Paraná, começou a acompanhar Juliana em um trabalho amplo também pelo Mais Gestão. “Ela já tinha um acompanhamento da extensão rural. Isto fortaleceu a atividade produtiva dela até para ela se destacar e chegar a assumir um papel de liderança em um empreendimento coletivo importante para a região de União da Vitória e para o município de Cruz Machado. O trabalho da economista doméstica entra neste aspecto. É mais amplo, porque essa é a real definição da extensão rural”, explica Francieli.

Perceber uma mulher em uma posição de liderança é também perceber que ela pode ir além. A visão da economista doméstica, neste caso, foi preparar a Juliana para se tornar uma mulher exemplo para as demais não só na Cooperativa, quando ela se tornou presidente da COOAVI, mas também no meio rural, como produtora e exercendo um papel estratégico nos locais onde atua.

“Nosso papel de extensionista é de fortalecer cada vez mais a liderança da Juliana, porque ela lidera um empreendimento coletivo, que tem uma importância tanto no mercado institucional quanto no mercado privado, porque eles fazem a venda das olerícolas. Além disso, há muitas produtoras rurais participando da Cooperativa, inclusive no Conselho, que se aproximaram por estarem seguindo, na Juliana, um exemplo. Então, nós precisamos empoderá-la, criar uma admiração, atrair outras mulheres para estes espaços e mostrar para elas de que é possível ser líder naquilo em que elas atuam”, esclarece a extensionista.

Até chegar à presidência da Cooperativa, Juliana encontrou alguns percalços. “Eu já ouvi questionamentos de outras mulheres de o porquê eu estar fazendo algo, já que aquilo não era coisa para mulher. Só que eu vejo com outros olhos. Eu enxergo de que a gente é capaz. E a hora que a gente começa a liderar, a hora em que a gente começa a puxar outras mulheres junto, elas também passam a agir diferente e a acreditar em si mesmas, porque elas percebem que são capazes”, relembra a agricultura.

E Juliana não para por aí. Começou a cursar Pedagogia para aumentar o próprio conhecimento, porque a ideia não é sair da propriedade tão cedo. “Eu gosto de desafios e me formar na faculdade é também um desafio. Quando eu comecei a atividade leiteira aqui foi. Meu marido não acreditava. Pegue este desafio para mim. Fui participando de cursos, fui aprendendo, hoje até faço inseminação aqui. Então, quero que outras mulheres vejam e tentem para conseguir também”, comemora a produtora.

Atualmente, ela produz e comercializa em torno de 200kg mensais de morango orgânico para o mercado privado e institucional. Alface, brócolis, couve flor, cenoura, beterraba, tomate, pepino e abobrinha representam outros 1000 kg mensais.

Para a economista doméstica, modelos como o da Juliana são possíveis de serem vistos em muitas regiões do Estado, mas ainda podem ser muito mais multiplicados. “A gente fica muito feliz quando vê exemplos de mulheres na produção e em um papel mais estratégico. Também sentimos que estamos realizando um bom trabalho de extensão quando vemos mulheres falando, representando, entusiasmadas e coordenando grandes empreendimentos”, celebra Francieli.

Para outras mulheres, que não estão próximas, Juliana deixa um conselho e conta como tudo começou: “A minha principal inspiração foi e ainda é minha mãe. Ela sempre liderou as atividades dentro de casa. Cuidava da casa, dos filhos e as atividades da propriedade. Ela foi o ponto principal. Ela foi me inserindo e me levando junto. Eu fui gostando, eu fui vendo os resultados e fui vendo que eu sou capaz e aí eu fui embora. A mulher no campo não serve apenas para as atividades dentro de casa, ela pode ir além. É só questão de querer”, finaliza.

 

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