Mais de 120 produtores orgânicos e interessados na produção agroecológica participaram, na quarta-feira (26), do 3º Encontro Mesorregional de Agroecologia, na Estação de Pesquisa em Agroecologia do IDR-Paraná, em Pinhais, antigo CPRA.

A programação contou com uma manhã de palestras sobre a comercialização de alimentos orgânicos. Um dos destaques foi a participação do agricultor Felipe Khun, de Tijucas do Sul, que apresentou “A experiência com agricultura regenerativa: da produção agroflorestal à comercialização direta”. Ele compartilhou práticas de manejo e produção de alimentos e falou sobre o relacionamento com consumidores por meio do projeto Cestas Solidárias, que organiza grupos de consumidores abastecidos diretamente por famílias agricultoras.

Segundo Felipe, criar vínculos é parte essencial da venda direta. “Para comercializar, não é só entregar para o consumidor final. O relacionamento não precisa ser só comercial. Pode ser pessoal, de conversar, perguntar se o cliente está gostando. É olhar para o cliente não como uma fonte de dinheiro, mas como alguém que financia seu sonho”. Ele destacou ainda a importância da gestão: “Às vezes você está produzindo muito bem e vendendo muito bem, mas o mercado e os clientes se renovam. É preciso ter boa visão para se adiantar”.

Na sequência, foram debatidos modelos de comercialização por meio de cooperativas, com a apresentação do presidente da Cooperativa Agropecuária de Quatro Barras, José Cassiano dos Reis Neto, e também oportunidades do Mercado Institucional para Orgânicos, com foco no Programa Estadual de Alimentação Escolar. A palestra foi conduzida pela nutricionista da Fundepar (Fundação Educacional do Estado do Paraná), Kelly Caroline Nalepa Siben.

Para a agricultora Tania Christina de Souza, de Mandirituba, as falas da manhã foram inspiradoras. “Uma das chaves que virou para mim hoje é essa da comercialização: diversificar, fazer vendas diretas e não depender só de políticas públicas, mas andar também com as próprias pernas. Acreditar no nosso trabalho e valorizar o que a gente produz”, ressaltou.

TARDE DE CAMPO AGROECOLÓGICA  - O 3° Encontro Mesorregional de Agroecologia contou com diversas oficinas que visaram a difusão de práticas agroecológicas e demandas das propriedades rurais. As oficinas foram de Abelhas-sem-ferrão, do Projeto Cestas Solidárias, Controle integrado do Carrapato em bovinos, frutas vermelhas e de clima temperado, bataticultura orgânica, enxertia de araucária, bioinsumos e controle biológico de pragas.

A agricultora Simone Garcia, de Rio Branco do Sul, veio para o evento com a família. “Estamos passando pela transição do convencional para o orgânico e decidimos vir todos para aprender e colocar em prática”, afirmou. Ela destacou a importância de superar dificuldades resgatando práticas antigas, especialmente no controle de pragas — tema de uma das oficinas das quais participou.

O produtor de morangos Gean Marlo Menze, de Mafra, buscou aprofundar seus conhecimentos em frutas vermelhas. “Nós produzimos morangos e agora começamos com mirtilos. Eventos como este são muito bons porque sempre agregam”. Ele também participou das oficinas de abelhas-sem-ferrão e de frutas temperadas.

MAIS UM EVENTO DA CASA DA AGROECOLOGIA - O encontro integrou as ações do Projeto Casa da Agroecologia, sediado na Estação de Pesquisa de Pinhais, cujo objetivo é aproximar ensino, pesquisa e extensão. O gerente do projeto e agrônomo do IDR-Paraná, Moacir Roberto Darolt, destacou o engajamento dos agricultores. “A participação ativa nos debates mostrou um grande interesse pela comercialização de orgânicos. A troca de experiências entre pesquisa, extensão e prática é fundamental para identificar gargalos e redirecionar o trabalho do IDR com foco na agroecologia”.

A Estação de Pesquisa recebe cerca de 2,5 mil pessoas por ano, em cursos, treinamentos, visitas técnicas, dias de campo e eventos de agroecologia. O público prioritário é da agricultura familiar, mas também inclui estudantes de diversos níveis e grupos atendidos por políticas sociais, como usuários dos CRAS. Darolt ressaltou ainda as parcerias com UFPR, Programa Paraná Mais Orgânico, SENAR, Embrapa e organizações de agricultores orgânicos, fundamentais para fortalecer o trabalho desenvolvido.