Agora no Vale do Ribeira, HLB continua desafiando citricultura 23/06/2025 - 08:56

Estratégia de combate exige ação coordenada entre produtores e instituições públicas

O IDR-Paraná (Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná – Iapar-Emater), a Adapar (Agência de Defesa Agropecuária do Paraná) e a Seab (Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento) emitiram nota técnica alertando para a constatação da doença HLB (huanglongbing), também conhecida por greening, no Vale do Ribeira, região metropolitana de Curitiba.

A presença do HLB no Vale do Ribeira põe em risco a principal atividade agrícola de muitos produtores familiares da região. A tangerina poncã, altamente sensível à doença, tem grande peso na economia local — com parte da produção sendo inclusive destinada à exportação.

A DOENÇA — O HLB foi detectado pela primeira vez no Brasil em 2004, no estado de São Paulo, e chegou ao Paraná em 2007, no município de Altônia. A partir de então, alastrou-se por toda a região Noroeste e Norte do Estado, até chegar ao Vale do Ribeira. Em resposta ao avanço da doença, o Paraná está sob emergência fitossanitária desde 2023.

Causado pela bactéria ‘Candidatus Liberibacter spp.’, o HLB tem potencial para reduzir drasticamente a produção dos pomares de frutas cítricas. A doença afeta todas as cultivares comerciais e não há controle conhecido.

O ciclo da doença envolve ainda um pequeno inseto, o psilídeo asiático dos citros (Diaphorina citri), que adquire a bactéria ao sugar a seiva de plantas doentes e a transmite quando se alimenta em árvores sadias.

Plantas infectadas apresentam inicialmente folhas com mosqueado amarelo (ou amareladas inteiramente, se forem novas) em apenas um ou poucos ramos, quadro que pode evoluir rapidamente para toda a copa da planta. Se houver produção, os frutos serão drasticamente afetados — tamanho reduzido, assimétricos e mais verdes, com sementes abortadas, teor de açúcares diminuído e acidez elevada.

CONTROLE — Não há controle para o HLB e o manejo deve ser preventivo. A recomendação é a inspeção regular de pomares para identificar e eliminar rapidamente plantas doentes, inclusive de plantios caseiros em chácaras de lazer e quintais; controle rigoroso da população de psilídeo com uso de inseticidas — é importante promover a alternância de princípio ativo —; e, ainda, a adoção de controle biológico com a vespa tamaríxia (Tamarixia radiata), que deposita seus ovos em ninfas (formas jovens) do psilídeo e as mata.

O IDR-Paraná vem desenvolvendo desde 2016 um projeto de produção e liberação de tamaríxias, em parceria com a Cocamar Cooperativa Agroindustrial, Integrada Cooperativa Agroindustrial e a empresa Citri Agroindustrial, sob articulação da Fapeagro (Fundação de Apoio à Pesquisa e ao Desenvolvimento Rural). Atualmente, são produzidas na instituição cerca de dois milhões de vespinhas por ano.

A multiplicação é feita pelo IDR-Paraná, e os parceiros se encarregam da distribuição. As tamaríxias são liberadas em pomares domésticos (tanto em áreas rurais como urbanas), plantios comerciais abandonados e também nas cidades, sobretudo onde há plantas de murta, espécie ornamental que é uma das principais hospedeiras da bactéria do HLB e do psilídeo dos citros. 

O trabalho é desenvolvido dessa forma porque, ao contrário dos pomares comerciais, nesses locais geralmente não se faz aplicação de inseticidas, e o inimigo natural fica “protegido”. Essa técnica de controle biológico tem sido empregada no Estado de São Paulo, no México, na Costa Rica, nos Estados Unidos e em outras regiões produtoras de citros. 

Um aplicativo para celulares, IDR-Tamaríxia, desenvolvido por pesquisadores e especialistas do setor de tecnologia de informação do próprio IDR-Paraná, oferece a técnicos e produtores as orientações necessárias para distribuição adequada da vespinha. Dentre suas diversas funcionalidades, destacam-se a possibilidade de construir banco de dados e gerar mapas com o histórico de liberação em cada local. O app está disponível gratuitamente no Google Play e Apple Store.

Nesses nove anos desde que o projeto foi iniciado, mais de 14 milhões de tamaríxias foram distribuídas em municípios das zonas produtoras paranaenses. Cada vespinha pode eliminar até 500 psilídeos, uma significativa contribuição para diminuir a população do vetor da bactéria do HLB nos pomares.

O IDR-Paraná ainda desenvolve estudos para a produção de cultivares de citros resistentes a doenças. As pesquisas são antigas, iniciadas em 1998, primeiramente com a intenção de obter plantas transformadas resistentes ao cancro cítrico e, mais recentemente voltado ao HLB. Por fim, outro trabalho conduzido pela instituição é a avaliação da eficiência de produtos químicos usados no controle do psilídeo.

Em outra frente de atuação, a Adapar já realizou três operações “Big Citros” desde 2023, com foco na prevenção e controle do HLB. As ações foram conduzidas em 24 municípios das regiões Noroeste e Norte do Estado, e geraram mais de 409 fiscalizações em pomares comerciais e 376 em áreas não comerciais; erradicação de aproximadamente 57 mil plantas sintomáticas; emissão de mais de 200 notificações e 20 autos de infração, além de iniciativas para coibir o comércio irregular de mudas.

Além do controle químico do psilídeo, eliminação de plantas doentes e adoção suplementar do controle biológico com a tamaríxia, os pesquisadores recomendam ainda, no caso de novos plantios, usar exclusivamente mudas sadias produzidas em viveiros registrados na Seab, adensamento do plantio e implantação de quebra-vento nos pomares.

PATRIMÔNIO — A citricultura ocupa 29,3 mil hectares no Paraná e movimenta perto de R$ 1 bilhão por ano. São produzidas anualmente aproximadamente 861 mil toneladas de frutas, entre laranja, tangerina e limão.

Dois polos de produção se destacam no estado: as regiões Norte e Noroeste, que produzem predominantemente laranja para extração de suco, e o Vale do Ribeira, com tangerinas para consumo in natura.

No Vale, a citricultura é a base da economia rural e sua preservação é estratégica para o desenvolvimento da região.

NOTA TÉCNICA — A íntegra da Nota Técnica n.º 12/2025 está disponível no site do IDR-Paraná.