Agroindústria de Ourizona conquista o estado 29/09/2025 - 13:27

Maria Lúcia da Silva, pernambucana do município de Bezerros, veio para o Paraná em 2000. Moradora da Vila Rural de Atalaia, na região de Maringá, ela decidiu plantar uma horta e produzir olerícolas para vender na feira do município. Mas as vendas fracas levaram Maria Lúcia a buscar outra alternativa de renda. Foi então que ela começou a trabalhar com a agroindústria. Aos poucos a produção modesta evoluiu para uma empresa que hoje está presente em supermercados de todo o estado. Além de desenvolver o seu empreendimento, Maria Lúcia construiu uma nova versão de si mesma. A migrante que sabia trabalhar, mas não tinha formação, se profissionalizou e hoje é uma empresária e liderança reconhecida pela comunidade. Nessa trajetória, Maria Lúcia contou com o apoio do IDR-Paraná que lhe deu as orientações desde o plantio da pimenta, até a construção da agroindústria e da sua marca.

“Eu digo que foi a pimenta que me encontrou e não eu que fui atrás da pimenta. Eu não tinha conhecimento sobre a fabricação das conservas, mas tinha coragem e queria trabalhar”, relembra a empresária. Maria Lúcia disse que na época em que morava na Vila Rural de Atalaia soube de uma indústria da região que procurava quem quisesse plantar pimenta. Como sempre esteve envolvida com trabalhos comunitários, Maria Lúcia recebeu as sementes fornecidas pela indústria de conservas e buscou o apoio da prefeitura para fazer as mudas no viveiro municipal. As plantas foram distribuídas para outros interessados e mais gente passou a entregar pimenta para a indústria. Não demorou muito para que Maria Lúcia desse início a uma agroindústria, já que a empresa sugeriu que ela fizesse as conservas em sua propriedade.

O trabalho corria bem, com as dificuldades de quem é iniciante. A situação começou a mudar em 2007 quando Maria Lúcia procurou a então Emater de Atalaia, hoje IDR-Paraná, e passou a fazer parte do trabalho de desenvolvimento territorial proposto pelo Pro-AMUSEP, programa de coordenado pelo Sebrae, UniCesumar, CODEM (Conselho de Desenvolvimento Econômico de Maringá), AMUSEP (Associação dos Municípios do Setentrião Paranaense) e Emater. Como o incentivo à agroindustrialização era um dos projetos desse programa, Maria Lúcia passou a ser atendida pelo extensionista José Sérgio Righetti, de Mandaguaçu, que atendia toda a região para tratar de agroindústrias. Foi nesta época que a produtora conheceu o programa Fábrica do Produtor que oferecia suporte aos produtores do estado. Além da orientação técnica (adubação, espaçamento) para melhorar o plantio da pimenta, Righetti sugeriu que ela construísse instalações mais adequadas que atendessem as normas sanitárias.

PRONAF - Com o apoio do IDR-Paraná, a produtora contratou seu primeiro financiamento de uma política pública. Com o Pronafinho ela conseguiu o valor de R$ 6.000 que foi aplicado na construção da sua primeira agroindústria. Righetti lembra que o projeto contava com dois cômodos. No primeiro a pimenta era recepcionada e passava por uma limpeza e no segundo era processada. “Além da construção e regularização da agroindústria, trabalhamos a rotulagem dos produtos. A Maria Lúcia fez um curso de Boas Práticas de Fabricação e Empreendedorismo que lhe rendeu um certificado que ela guarda, com orgulho, até hoje O treinamento ia além das boas prátias e tinha a questão de melhorar o capital social dos produtores. A Maria Lúcia foi uma aluna bastante ativa e hoje é presidente de duas associações e diretora de uma cooperativa de agricultura familiar da região. Ela faz um bom trabalho dando mais atenção os cuidados com as pessoas envolvidas nas agroindústrias”, observou Righetti.

Com a estruturação da empresa, Maria Lúcia colocou no mercado sua marca própria, a “Sabor da Vila”. A partir daí a empresária passou a participar de feiras o que aumentou  a visibilidade da empresa. “Graças a esse trabalho consegui divulgar meus produtos em feiras de todo o estado”, observou Maria Lúcia. A produção também chegou aos supermercados, primeiramente pela banca do programa Fábrica do Produtor presente em uma rede de varejistas da região. Depois, com o encerramento do programa, a Associação Regional da Agroindústria Familiar da Região de Maringá (AREA) atuou para manter o espaço dos produtores locais em supermercados de Maringá, Campo Mourão, Londrina, Apucarana, Paranaguá, Ponta Grossa e Curitiba.

Maria Lúcia aprendeu bem as lições dos cursos de empreendedorismo do Sebrae. Além de participar de diversas feiras, ela também passou a usar plataformas digitais (WhatApp) para divulgar seus produtos. Atualmente a agroindústria está instalada em Ourizona, é cinco vezes maior que a primeira, e produz 40 tipos diferentes de produtos. São doces, molhos, conservas e geleias, feitos sob o olhar criterioso de Maria Lúcia.

LIDERANÇA - A Sabor da Vila é uma empresa exclusivamente familiar. Maria Lúcia deu emprego a um filho, à nora e ao neto. Além disso, ela contratou duas funcionárias para dar conta de entregar 1.000 potes todo mês. A receita da agroindústria aumentou em cinco vezes. “Antes eu apenas sobrevivia. Hoje eu vivo, viajo e consigo pagar as minhas contas. Nunca imaginei entrar em um supermercado e encontrar um produto com meu nome. Hoje a ‘Sabor da Vila’ tem acesso a uma rede de supermercados que vende os produtos nas principais cidades paranaenses, inclusive Curitiba”, observou a empresária. Ela pensa ainda em transferir a sede da agroindústria para um local mais próximo da cidade de Ourizona, para melhorar a logística da empresa. “Também quero aumentar o espaço de plantio porque atualmente grande parte da matéria-prima que a agroindústria beneficia vem de terceiros ou de cooperativas”, explicou. Maria Lúcia se tornou uma liderança na região. Seu trabalho como empresária a levou a assumir a presidência da AREA (Associação Regional da Agroindústria Familiar da Região de Maringá) e da ASSIPAR (Associação Agroindustrial de Curitiba), além da tesouraria da Cooperativa Agroindustrial Cooperervas. Maria Lúcia também foi presidente da Cooperativa de Agricultores  Familiares da Região de Maringá (COAFAM). Mas ela não esquece o caminho que percorreu. “Posso dizer que a minha agroindústria existe por causa do IDR-Paraná que me mostrou o potencial para crescer e melhorar minha empresa. Junto com o IDR-Paraná eu Sebrae tive todo suporte técnico para que eu conseguisse andar sozinha”, destacou.

Sérgio Righetti, que acompanhou o trabalho de Maria Lúcia desde o início, credita o sucesso da empresária a uma combinação de fatores. “Ela soube aproveitar as políticas públicas. Foi atrás, brigou. Mesmo recebendo algumas respostas negativas, não desistiu e conseguiu chegar onde está hoje. E continua na briga”, concluiu Righetti.