Boletim Agrometeorológico do IDR-Paraná mostra que junho foi um mês marcado pelo frio intenso 04/07/2025 - 09:40

No Paraná, o mês de junho de 2025 foi marcado por geadas, frio intenso e quantidades expressivas de precipitações. Todas as regiões do Estado registraram chuva mensais superiores a 100 mm (Figura 1). O maior acumulado foi observado em Cruzeiro do Iguaçu, no Sudoeste, com impressionantes 543,4 mm (Figura 2). Por outro lado, o menor volume pluviométrico foi 43,6 mm registrado em Santo Antônio da Platina, no Norte do Estado (Figura 2).

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Figura 1. Precipitação média (mm) registrada em junho de 2025 e histórica (1976-2024) nas regiões do Paraná. Fonte: IDR-Paraná e Simepar.*RMC - Região Metropolitana de Curitiba.
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Figura 2. Precipitação registrada em junho de 2025 no Paraná. Fonte: IDR-Paraná e Simepar.

 

As anomalias de precipitação em junho de 2025 ficaram acima da média histórica em todas as regiões do Paraná (Figuras 1 e 3). O maior superávit foi observado no Sudoeste do Estado, com 217 mm acima da média climatológica. A região Norte apresentou os menores desvios, registrando 16,6 mm acima da média. No geral, a média estadual de precipitação foi de 210,9 mm, valor significativamente superior à média histórica para o mês, que é de 120,3 mm.

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Figura 3. Anomalias de precipitações (mm) registradas em junho de 2025 em relação à média histórica no Paraná. Fonte: IDR-Paraná e Simepar.

As temperaturas máximas médias de junho de 2025 ficaram abaixo da média histórica em praticamente todo o Paraná, com exceção da estação de Cândido de Abreu (Figura 4). Em municípios como Palotina, no Oeste, e Entre Rios, no Centro-Sul, as anomalias negativas das temperaturas máximas chegaram a -2,7 °C. Considerando o Estado como um todo, a média das temperaturas máximas foi 1,3 °C inferior aos valores históricos para o mês.

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Figura 4. Anomalia das temperaturas máximas do ar de junho de 2025 no Paraná. Fonte: IDR-Paraná e Simepar.

 

As temperaturas mínimas médias de junho de 2025 ficaram abaixo da normal climatológica nas regiões Oeste e Sudoeste do Paraná. Nas demais regiões, os valores estiveram próximos ou até superiores à média histórica (Figura 5). Em Foz do Iguaçu, por exemplo, a média das temperaturas mínimas foi 2,2 °C inferior à média histórica. Em contraste, nos municípios de Antonina (Litoral) e Telêmaco Borba (região Central), as temperaturas mínimas ficaram 1,4 °C acima da média climatológica. Considerando todo o Estado, a temperatura mínima média de junho foi praticamente igual aos valores históricos, com uma anomalia de -0,1 °C.

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Figura 5. Anomalia das temperaturas mínimas do ar de junho de 2025 no Paraná. Fonte: IDR-Paraná e Simepar.

 

Uma intensa e rápida massa de ar polar atuou sobre o Paraná nos dias 24 e 25 de junho, provocando geadas generalizadas em praticamente todo o Estado. As temperaturas mais críticas foram registradas nas regiões mais ao sul. O menor valor observado foi de -5,2 °C, no dia 24, no município de Palmas (localidade de Horizonte), situado no extremo sul do Estado (Figura 6).

 

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AGRICULTURA: O texto a seguir é uma análise da influência das condições climáticas de junho sobre as principais culturas agrícolas do Estado, com base nos boletins semanais e diários elaborados pelos técnicos do Departamento de Economia Rural do Paraná – DERAL. 

Em geral, as condições climáticas de junho não foram favoráveis ao desenvolvimento das culturas agrícolas no Estado, devido principalmente às fortes geadas.

MILHO 2ª SAFRA: A colheita do milho segunda safra avançou lentamente em junho, com apenas 16% da área colhida, em razão da intensa precipitação e da maturação mais lenta das lavouras, provocada pelas baixas temperaturas. Ao final do mês, as lavouras em campo foram classificadas em 68% em boas condições, 18% em condições medianas e 14% em condições ruins. Houve perdas causadas pelas geadas, especialmente nas áreas implantadas mais tardiamente. Essas lavouras mais novas, cujos grãos ainda estavam na fase 'leitosa', foram as mais afetadas, sendo que parte da produção deverá ser destinada à silagem. Estima-se que 46% da área total cultivada com milho no Paraná encontrava-se em estádios suscetíveis aos danos por geada, concentrando-se principalmente na região Norte. Por outro lado, 54% das lavouras estavam em estágio final de desenvolvimento, fase na qual as geadas têm impacto menos significativo.

FEIJÃO 2ª SAFRA: Até o final de junho, cerca de 98% da área cultivada com feijão segunda safra já havia sido colhida. No entanto, a produtividade ficou abaixo do esperado, devido à estiagem no início do ciclo e perda de qualidade provocada pelas chuvas ocorridas em junho. Nesse cenário, apenas 68% das lavouras restantes no campo foram classificadas com boas condições, 24% em condição mediana e 8% em condição ruim.

TRIGO: A semeadura do trigo avançou em junho, com 96% da área prevista já implantada até o final do mês. No entanto, observou-se uma piora no desenvolvimento das lavouras: em maio, 99% apresentavam bom desenvolvimento, percentual que caiu para 84% em junho. Essa redução se deve, principalmente, à ocorrência de geadas sobre lavouras implantadas mais tardiamente, cujas espigas estavam — ou já haviam passado — da fase de emborrachamento. Por outro lado, nas lavouras que ainda não haviam atingido essa fase, o frio contribuiu positivamente para o perfilhamento e o controle de pragas.

CAFÉ: Até o final de junho, aproximadamente 44% da área cultivada com café já havia sido colhida. As lavouras apresentaram, em sua maioria, boas condições, com 91% classificadas como em bom estado e o restante em condição mediana. Apesar do avanço, a colheita teve ritmo lento devido às chuvas constantes. Houve registros de danos causados por geadas, que possivelmente afetaram grãos ainda verdes. As precipitações também comprometeram a qualidade de parte da produção, ao dificultar a colheita no momento ideal. No Norte Pioneiro, principal região produtora do Estado, os danos foram considerados leves, com ocorrência de geadas do tipo 'capote', que atingiram principalmente as partes superiores das plantas. Esse cenário pode impactar negativamente os rendimentos da próxima safra.

MANDIOCA: As lavouras de mandioca no Noroeste do Estado foram afetadas pelas geadas, o que deve reduzir a oferta de manivas neste ano. A colheita ocorreu dentro do previsto e, paralelamente, deu-se continuidade ao plantio de novas áreas.

OLERÍCOLAS: As hortaliças foram às culturas mais prejudicadas no Estado, por serem extremamente sensíveis ao frio. Em praticamente todas as regiões, as geadas afetaram os cultivos não protegidos, resultando em perdas parciais ou totais da produção — com destaque para brócolis, alface e outras folhosas. Nas regiões mais frias do Sul, até mesmo as culturas em estufas, lavouras cobertas com TNT e produções hidropônicas foram impactadas, incluindo os cultivos de tomate, devido à forte intensidade das geadas. Como consequência, houve redução na oferta e na qualidade dos produtos em feiras e mercados, provocando aumento nos preços.

CANA-DE-AÇÚCAR: As geadas provocaram danos pontuais nas lavouras de cana-de-açúcar. No entanto, ainda não foi possível dimensionar o grau de impacto sobre a produção.

FRUTICULTURA: As frutas de clima temperado não sofreram danos com as geadas. Por outro lado, as frutíferas tropicais registraram perdas significativas. As bananeiras foram fortemente afetadas na região Sudoeste, enquanto no Litoral — principal região produtora — não houve ocorrência de geada. Ainda na região Sudoeste, os mamoeiros apresentaram prejuízos. No Norte do Estado, as goiabeiras e os morangueiros também foram impactados.

CEREAIS DE INVERNO: As lavouras de aveia foram prejudicadas pelas geadas, especialmente nas áreas onde a cultura estava em fases mais avançadas, como floração e reprodução. Apesar de parte da produção ser destinada à cobertura do solo — o que reduz o impacto econômico —, são esperadas perdas elevadas. Já nas áreas menos adiantadas, as lavouras foram beneficiadas pelas chuvas, embora tenha havido registros pontuais de erosão. A cevada, por sua vez, foi favorecida pelas precipitações e já conta com 77% da área prevista semeada. Durante a ocorrência das geadas, a cultura estava em estágio inicial de desenvolvimento, o que evitou danos. Estima-se que 90% das lavouras apresentem boas condições de desenvolvimento.

PASTAGENS: As pastagens foram impactadas em todas as regiões do Estado, com redução significativa da massa verde. Essa situação tem dificultado o manejo do gado e elevado os custos com alimentação, especialmente para a pecuária leiteira. Até mesmo as pastagens de inverno foram afetadas. Além disso, o excesso de chuvas reduziu a trafegabilidade das estradas rurais, dificultando a captação de leite.

MANANCIAIS HÍDRICOS: Os níveis dos rios, riachos e lagos permanecem dentro da normalidade, em função do elevado volume de chuvas registrado em todo o Paraná.

 

Elaborado pela Agrometeorologia do IDR-Paraná1 e técnicos da SEAB/DERAL²:

Heverly Morais¹

Carlos Hugo Winckler Godinho (Organizador)²

Pablo Ricardo Nitsche¹

Angela Beatriz Ferreira da Costa¹

Clauceneia Ludwig¹

APOIO: SIMEPAR