Combate à compactação do solo aumenta produtividade da agropecuária 23/11/2020 - 17:24

Para muitos agricultores paranaenses o grande desafio da atividade agropecuária tem sido manter o solo produtivo e, assim, obter o retorno de capital investido nas propriedades rurais. No Paraná, o preço das terras agricultáveis tem crescido vertiginosamente nos últimos anos, mas essa valorização não tem refletido em maior cuidado com o solo. Além da exploração excessiva, o uso de equipamentos pesados tem contribuído para a compactação de muitas áreas, prejudicando sensivelmente os índices de produtividade. Porém, os extensionistas acreditam que um bom manejo do solo pode devolver a produtividade que o produtor tanto busca. Para discutir o assunto, a Expotécnica.com organizou um bate-papo sobre o tema, na próxima quinta-feira (26), a partir das 9h, em seu canal no YouTube (https://youtu.be/6TLeitOS_C8). Pesquisadores, extensionistas e produtores vão apresentar experiências com o plantio e o manejo das plantas de cobertura em sistemas de plantio direto. 

Para Celso Seratto, engenheiro agrônomo do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná - Iapar-Emater (IDR-Paraná), a maioria dos produtores acredita que a produtividade é decorrência do uso de máquinas modernas, novas cultivares e uso indiscriminado de defensivos. Mas a prática mostra que a adoção de inovações tecnológicas é apenas uma das estratégias para aumentar a rentabilidade de uma área com agricultura ou pecuária. "Atualmente já está comprovado que é preciso fazer o uso adequado dos recursos naturais, insumos e máquinas, além de um correto manejo do ambiente, especialmente o solo. Em uma propriedade onde se consegue expandir 20% da produtividade, mantida uma mesma estrutura de custos, o produtor quase dobra a rentabilidade sobre o capital e trabalho investidos. O bom manejo do solo pode permitir esse ganho num prazo relativamente curto, entre três e cinco anos, com um bom planejamento", explica Seratto. Ele lembra também que há ganhos de ordem ambiental, ao aumentar as taxas de infiltração de água das chuvas no solo, já que o manejo de solo amplia a carga, a retenção e a filtragem da água no sistema agrícola, prevenindo contra a erosão, que arrasta solo e insumos nos solos mal manejados. 

As adversidades climáticas recentes, com estações secas mais severas, têm despertado a atenção e o cuidado de profissionais, pesquisadores e extensionistas. “Os produtores têm se conscientizado e procurado cada vez mais pela tecnologia de manejo adequado dos solos e das águas. Mas esse movimento ainda é modesto”, ressalta Luiz Marcelo Franzin, do IDR-Paraná de Sabáudia.

Na opinião do pesquisador Cesar Francisco Araújo Junior, do IDR-Paraná de Londrina, a mecanização intensiva, sem o apropriado controle do tráfego de máquinas, tem provocado a compactação do solo em muitas propriedades. "Dados de pesquisa de diversas instituições têm demonstrado que a compactação afeta o rendimento das culturas pelo aumento da resistência mecânica, menor disponibilidade de água e nutrientes", lembra o pesquisador.

Henrique Debiasi, da Embrapa Soja, afirma que no processo de degradação da estrutura do solo as consequências se refletem diretamente no bolso do agricultor ou pecuarista. "Os custos se elevam, o resultado esperado com o uso das tecnologias se frustra e o decréscimo na rentabilidade das lavouras é quase inevitável", ressalta. Segundo ele, nas lavouras anuais, como é o caso de grãos, isso é ainda mais evidente, principalmente nos anos mais secos ou com veranicos. "A compactação atrapalha o desenvolvimento das raízes das plantas e limita o acesso aos nutrientes. Além disso, essa degradação prejudica o desenvolvimento dos microrganismos benéficos existentes no solo, seja pela menor proporção de raízes existentes, seja devido à menor quantidade de ar e água disponíveis", observa Debiasi. 

Pecuária
De acordo com especialistas, o declínio da produtividade nas áreas de pecuária, acontece porque há uma queda na reposição de nutrientes do solo. Erros cometidos pelo pecuarista podem ampliar os prejuízos. "Quando o sistema de rodízio das pastagens não é bem planejado, o produtor negligencia a umidade do solo, há um excesso de lotação ou faltam as correções e calagem, o desenvolvimento das gramíneas fica reduzido, diminuindo a quantidade de massa e raízes suficientes ao pastejo e ao sistema do solo. Com o passar do tempo, forma-se um círculo vicioso de degradação, o que exigirá inevitavelmente investimento na reforma da pastagem", explica Seratto. A compactação do solo também acarreta maior risco de ocorrer o escorrimento superficial da água, causando erosão do solo.

Seratto lembra que o encurtamento do período entre a colheita da safra de verão e o plantio da safrinha nos últimos anos tem aumentado o tráfego das máquinas e equipamentos na lavoura quando a umidade é alta, agravando a degradação do solo.

Para minimizar esses efeitos danosos, os extensionistas sugerem que o produtor realize as operações de semeadura, pulverização ou colheita somente quando a umidade do solo estiver baixa. "Quando a umidade do solo estiver elevada, a pressão exercida pelo peso dos pneus das máquinas pode chegar até uma profundidade entre 50 e 60 cm", explicou Seratto. Por isso, ele afirma que é preciso planejar o controle do trafego de máquinas, substituindo os pneus, ao final da sua vida útil, por modelos do tipo radial que reduzem em até 15% a pressão sobre o solo. Outra dica é usar pneus de baixa pressão e de alta flutuação, que possuem superfície de contato 25% maior. Seratto recomenda ainda manter a calibragem mais adequada ao tipo de pneu, evitando-se o excesso de ar. Além disso, é preciso adiar, ao máximo, a entrada com as máquinas nos talhões após as chuvas.

Matéria orgânica
Outro aspecto que contribui para a compactação é a falta de matéria orgânica no solo, dos restos vegetais sobre a superfície ou das raízes no seu perfil. Esse fenômeno é comum nas áreas agrícolas, em sistemas de sucessão de culturas soja/milho safrinha e nas áreas de pastagens degradadas. 

Nas lavouras, a sucessão dessas culturas, por mais produtivas que sejam, não possibilita produzir toda a matéria orgânica que a própria natureza ajuda a degradar. Estima-se que seja necessário adicionar, anualmente, até 14 toneladas de matéria seca por hectare no sistema. A sucessão da soja pelo milho safrinha fica devendo pelo menos quatro toneladas de matéria orgânica. O pecuarista enfrenta situação semelhante quando as pastagens vão perdendo sua capacidade produtiva, ao produzirem menos massa, por causa das falhas no seu manejo. O produtor interessado em fazer um bom manejo de solos e águas, deve adotar estratégias para incrementar a produção de massa vegetal na superfície do solo e no seu perfil. 

Seratto diz que uma prática eficaz é o plantio e manejo de plantas de cobertura em sistema de rotação, em cultivos solteiros ou em consórcio. A correção e a fertilização adequadas também são fundamentais para melhorar as condições do solo. "No caso da pecuária, um bom planejamento de implantação, uso no pastejo e um aporte acertado dos nutrientes ao solo, permitem uma rápida recuperação da área, contribuindo com a descompactação e o aumento da produtividade”, afirma Antônio José Coelho de Castro, especialista em bovinocultura de corte do IDR-Paraná.

Controle de nematoides
O uso das plantas de cobertura e a rotação das culturas são técnicas consideradas antigas, mas na verdade são atuais e modernas. "As plantas de cobertura fazem arranjar e reorganizar novamente a estrutura dos solos, proporcionando o aumento da permeabilidade da água e o seu armazenamento por mais tempo. Além disso, aumentam a aeração e a ciclagem de nutrientes. Em consequência disso, reduzem os riscos e ampliam o potencial produtivo das áreas de lavouras e pastagens”, defende Eduardo Henrique Lima Mazzuchelli, engenheiro agrônomo do IDR-Paraná.

Outro benefício no uso de plantas de cobertura, segundo os extensionistas, é a possibilidade de o produtor fazer o manejo e controle dos principais nematoides que afetam as raízes das plantas cultivadas. Esse resultado é obtido a partir da seleção das espécies e cultivares com reação conhecida na multiplicação desse tipo de praga de solo. Para isso, é preciso fazer um diagnóstico da presença dos fitonematóides, ajudando a selecionar as espécies mais adequadas. Os extensionistas afirmam que a adoção de técnicas de manejo de solos e águas aumenta em até 30% o incremento sustentável da produtividade das lavouras e pastagens, num prazo de três a cinco anos. Desta forma, as técnicas de manejo de solos e águas são  fundamentais para o incremento de renda e qualidade de vida do produtor rural. Mais informações no bate-papo sobre o tema, na próxima quinta-feira (26), a partir das 9h, no canal no YouTube da Expotécnica.com (https://youtu.be/6TLeitOS_C8).

Reportagem: Roberto Junior Monteiro