Diretora do IDR-Paraná é destaque em pesquisa agropecuária 08/03/2023 - 09:40

É possível estabelecer um paralelo entre a trajetória das mulheres e seu avanço nas ciências no Dia Internacional da Mulher?

Contrariando teorias de filósofos modernos como Immanuel Kant, Jean-Jacques Rousseau e Charles Darwin que acreditavam ser a natureza feminina incompatível com a intelectualidade ou que na espécie humana o sexo feminino era intelectualmente inferior, as mulheres conquistaram avanços ao longo da história. Como a agrônoma Vânia Moda Cirino, diretora de pesquisa do IDR-Paraná (Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná – Iapar-Emater) que ocupa a cadeira número 68 da Academia Brasileira de Ciência Agronômica (ABCA), que reúne cientistas brasileiros com destacada atuação nesse campo do conhecimento científico.

Vânia Moda Cirino deu início a sua carreira como pesquisadora em 1986 no então Iapar, hoje IDR-Paraná. Naquele ano ela ingressou na área de genética e melhoramento de plantas. Formada pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), ligada à Universidade de São Paulo (USP), Vânia fez pós-doutorado no Instituto di Radiobiochimica Ed Ecofisiologia Vegetali, em Roma, vinculado ao Consiglio Nazionale Delle Ricercha, da Itália.

A pesquisadora foi responsável técnica pelo desenvolvimento de mais de 38 cultivares de feijão. Muitos desses materiais extrapolaram as fronteiras do Paraná e são cultivados em várias regiões produtoras do Brasil e do Exterior.

Além de ocupar a cadeira da ABCA, Vânia coleciona títulos e condecorações pela alta qualidade técnica do trabalho de pesquisa que desenvolve. Em 2007 foi agraciada com o Destaque Tecnológico - Prêmio Banco do Brasil, na categoria Pesquisa. Em 2009, recebeu o Troféu Glaici Zancan de Mulheres na Ciência, da Secretaria de Estado da Ciência e Tecnologia do Paraná.

A atuação de Vânia vai além do trabalho desenvolvido no IDR-Paraná. Ela também atua em vários colegiados como a Comissão Técnica Nacional de BioSegurança (CTNBio). O grupo multidisciplinar, ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, presta apoio técnico e de assessoramento ao Governo Federal na formulação, atualização e implementação da Política Nacional de Biossegurança relativa a organismos geneticamente modificados. Vânia também tem uma atuação voltada à formação de novos pesquisadores. Ela colabora com programas de pós-graduação, orienta estudantes de iniciação científica, mestrado e doutorado. Além disso, regulamente Vânia publica artigos em periódicos, reuniões científicas, congressos, livros e boletins técnicos.

A Rainha do Feijão - O melhoramento genético, área de atuação de Vânia, é um processo contínuo e permite colocar no mercado novas variedades, mais resistentes e que superam as anteriores em rendimento e qualidade. Mas o trabalho é árduo e requer dedicação, empenho e continuidade. Foi exatamente a seriedade nesse trabalho que garantiu o êxito de Vânia. Algumas das cultivares desenvolvidas pela pesquisadora, ao longo dos seus quase 38 anos de atuação no IDR-Paraná, estão entre as mais cultivadas em todo o Brasil. A aceitação das variedades paranaenses é motivo de orgulho para a pesquisadora. De acordo com levantamentos, 70% do feijão preto produzido no Brasil é do Paraná.

As variedades desenvolvidas pelo IDR-Paraná são responsáveis por 69% do feijão preto e 19% do feijão carioca produzido no no Brasil. A preferência dos produtores foi conquistada graças a vantagens desenvolvidas pela pesquisa. O IPR Águia, do grupo comercial carioca por exemplo, se destaca pela alta tolerância ao escurecimento dos grãos, característica desejada especialmente pelos agricultores que podem estocar a produção por mais tempo. Já o IPR Cardeal, de grãos vermelhos (tipo Dark Red Kidney) foi desenvolvido para o segmento de exportação e será utilizado para a indústria de enlatados e conservas. Neste mês de março, o IDR-Paraná vai lançar mais duas cultivares de feijão: o IPR Águia e o IPR Cardeal.

História - Apesar do cenário hostil à atuação feminina, com o passar do tempo começaram a surgir mulheres pioneiras nas áreas da medicina, matemática, física, química e  astronomia. Para tanto, elas tiveram que lutar contra a exclusão, a dificuldade de acesso ao ensino, a violência e a desigualdade. As mulheres precisaram superar todas essas barreiras para que pudessem registrar seus nomes na história com descobertas que contribuíram para o avanço das ciências.

Comemoração - O Dia Internacional da Mulher foi criado em 1910, durante uma conferência internacional sobre mulheres em Copenhague. A data homenageia um grupo de operárias vítimas de um incêndio ocorrido no dia 8 de março. As trabalhadoras de uma fábrica de Nova York haviam declarado greve, reivindicando melhores condições de trabalho. Elas não só foram reprimidas, como também foram agredidas e trancadas na fábrica onde trabalhavam e o local foi incendiado. Mesmo com relevância do fato, apenas em 1957 a data foi oficializada pela Organização das Nações Unidas.

Mulheres na Ciência - E como tem sido a atuação das mulheres nas ciências ao longo desses anos? Dados da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) apontam que apenas 28,8% dos pesquisadores acadêmicos do mundo são mulheres.

Mesmo com esse contexto adverso, a história das mulheres cientistas no Brasil é admirável. Em 1945 Enedina Alves foi a primeira engenheira negra a se formar no Brasil, na Universidade Federal do Paraná. Outra cientista renomável é Johanna Dobereiner, nascida na Checoslováquia em 1924 e naturalizada brasileira em 1956. Formada em engenharia agrônomica, Johanna revolucionou a agricultura. A ela se deve a descoberta do uso de certos tipos de bactérias para a fixação do nitrogênio nas lavouras de soja, dispensando o adubo mineral. Johanna é muito citada pela comunidade científica e foi indicada ao Nobel de Química em 1997.

O IDR-Paraná homenageia a diretora de pesquisa e inovação, Vânia Moda Cirino, no Dia Internacional da Mulher. Seu trabalho científico e técnico, bem como sua atuação no ensino, são essenciais para promover a igualdade e favorecer a diversidade. Com sua atuação Vânia incentiva as mulheres, de maneira heroica e efetiva, a fazerem ciência e a promoverem o verdadeiro desenvolvimento.

Reportagem: Maria Helena Marçal