Milho: pesquisa analisa opções para controle da mancha branca 12/08/2025 - 14:48

Projeto analisa dados de todas as regiões produtoras de milho segunda safra

Um artigo recentemente publicado no conceituado periódico científico internacional Crop Protection apresenta o mais amplo panorama já realizado no país sobre o controle da mancha branca do milho. O trabalho abrange 87 ensaios de campo conduzidos durante nove anos (2016 a 2024) em cinco estados e no Distrito Federal, e oferece informações seguras para definir estratégias de combate à doença.

De acordo com diferentes estudos, a mancha branca, no Brasil, é associada a dois possíveis agentes causais — a bactéria Pantoea ananatis e o fungo Phaeosphaeria maydis — e se espalha com facilidade nas áreas de cultivo. Independentemente do agente, o resultado é o mesmo: provoca lesões nas folhas, prejudica a fotossíntese das plantas e, por fim, reduz a quantidade, tamanho e peso dos grãos.

“É uma das principais doenças foliares do milho no bioma Mata Atlântica brasileiro. Pode causar perdas superiores a 40% em lavouras suscetíveis e seu avanço está ligado ao crescimento da segunda safra — responsável por mais de 70% da produção nacional do cereal”, afirma Adriano de Paiva Custódio, pesquisador do IDR-Paraná e coordenador do projeto.

RESULTADOS — Custódio explica que os experimentos seguiram protocolo padronizado: cultivo em sistema plantio direto, uso de híbridos suscetíveis e três aplicações sequenciais de fungicidas — no estádio V8 (oito folhas completamente desenvolvidas), no pré-pendoamento e no início da formação dos grãos.

“Usamos ferramentas estatísticas capazes de integrar e interpretar grandes volumes de dados para identificar padrões confiáveis de desempenho”, ele explica.

De acordo com o pesquisador, todos os fungicidas testados reduziram a severidade da mancha branca. A eficácia variou de 53,2% a 71,3%, com destaque para a mistura difenoconazol + pydiflumetofen, que proporcionou o melhor controle e ganhos médios superiores a uma tonelada de grãos por hectare.

“Misturas triplas combinando estrobilurinas, triazóis e carboxamidas também mostraram alto desempenho; o menor controle foi obtido com produtos multissítio, como o mancozebe e clorotalonil”, ele aponta.

São chamados de “multissítio” os fungicidas capazes de atuar em diferentes pontos do ciclo metabólico dos fungos.

A análise econômica, feita com simulações de 50 mil cenários de preço e produtividade, mostrou que a possibilidade de obter lucro com o uso de fungicidas variou de 60% a 87%, dependendo do produto. O mancozebe, por exemplo, mostrou o maior retorno médio, US$ 70 por hectare, mesmo sem estar entre os mais eficientes no controle. “Isso indica que nem sempre o produto com maior efeito técnico é o mais vantajoso do ponto de vista de resultado econômico”, ressalta Custódio.

O artigo sugere ainda que a escolha do manejo deve considerar não apenas o controle da doença, mas também a sustentabilidade do sistema. “O uso combinado de fungicidas multissítio e produtos de ação específica diminui o risco de criar resistência a determinados princípios ativos, e a adoção de híbridos mais resistentes semeados no início do zoneamento agrícola tende a diminuir a pressão da doença e a necessidade de aplicações químicas”, conclui o pesquisador.

Interessados em ler o artigo na íntegra podem obtê-lo AQUI.

REDE — O estudo foi desenvolvido no âmbito da Rede Fitossanidade Tropical (RFT), proposta que propõe impulsionar a colaboração entre centros de pesquisa para desenvolver estudos sobre doenças, pragas e plantas daninhas nas culturas de milho, soja, algodão, feijão e trigo.

A RFT reúne 34 centros de pesquisa, públicos e privados, e diversos apoiadores do setor produtivo, fomento e indústria. Mais informações, AQUI.

SEMINÁRIO NACIONAL — Questões fitossanitárias, como a mancha branca, e outros desafios da cadeia produtiva na segunda safra compõem a programação do XVIII Seminário Nacional de Milho Safrinha, encontro que será realizado pelo IDR-Paraná de 9 a 11 de setembro, em Londrina - PR.

O evento, referência nacional no debate de tecnologias e inovações da cultura, é uma promoção da ABMS (Associação Brasileira de Milho e Sorgo) e deve reunir cerca de 500 participantes, entre técnicos, pesquisadores, professores, estudantes e agricultores. Para mais informações, clique AQUI.