Paraná inicia censo inédito para mapear perfil da agricultura orgânica no Estado 18/12/2025 - 11:15

Líder nacional na produção de orgânicos, com mais de 4.500 agricultores certificados, o Paraná vai fazer um censo para levantar as características dos produtores de todo o estado. O passo inicial foi dado nessa semana, quando a diretoria do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná) recebeu o Secretário Estadual de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Aldo Bona, para apresentar os resultados preliminares do Censo da Agricultura Orgânica no Norte Pioneiro do Paraná. O levantamento foi feito com recursos do Programa Universidade Sem Fronteira, da Seti, e também do Fundo Paraná. Participaram da mesa o Diretor-presidente do IDR-Paraná, Natalino Avance de Souza, a diretora de Pesquisa, Vania Moda Cirino; o Diretor de Gestão Institucional, Altair Sebastião Dorigo; o Diretor de Gestão de Negócios, Richard Golba e o Diretor de Extensão Rural, Paulo Eduardo Sipoli Pereira.

A apresentação foi feita por Tiago dos Santos Telles, pesquisador em economia do IDR-Paraná que coordenou o projeto, e por Felipe Alvares Spagnuolo, um dos extensionistas do Instituto que participaram do levantamento. Ao todo, o projeto envolveu quarenta pessoas, entre extensionistas e bolsistas. Tiago Telles contou que a ideia do Censo surgiu durante o desenvolvimento de uma ferramenta de gestão de custos para as propriedades orgânicas, que era encomenda de um grupo do Norte Pioneiro. O grupo de trabalho verificou que não havia dados sobre agricultura orgânica para o Brasil, tampouco para o Paraná. “A única fonte de dados era o Censo Agropecuário, e todos os especialistas sabem que os dados estão superestimados. Então a gente verificou que seria necessário que a gente fizesse esse levantamento”, afirmou o pesquisador. Partindo de dados do cadastro nacional de produtores de orgânicos de janeiro de 2024, foram feitas filtragens e chegou-se a uma amostra de 776 indivíduos, ao nível de significância de 95%, com uma margem de erro de 2,5%.

Os questionários permitiram definir várias características dos produtores de orgânicos e das unidades produtivas do norte pioneiro. No perfil sócio-econômico, verificou-se que 72% dos responsáveis pela produção são homens e 28% mulheres. 75% residem na área rural e 24 % na área urbana. Notou-se também um envelhecimento do produtor: a maioria está numa faixa etária de mais de cinquenta anos. Quanto à escolaridade, metade (50%) tem ensino fundamental, seguido de ensino médio (29%) e ensino superior (20%). A pesquisa levantou várias outras particularidades dos produtores, como uso de assistência técnica; necessidade de linhas de financiamento; garantia de conformidade orgânica; custos de produção; mercados acessados pelos produtores; tamanho da produção; tipo de frutas e olerícolas produzidas; renda média; uso de estufas; adoção de sistemas de irrigação; equipamentos de preparo do solo e adubação; técnicas de manejo de pragas, doenças e plantas espontâneas; tipos de sementes e mudas; problemas relacionados ao manejo e a motivação para ser um produtor de orgânicos. Neste caso, 66% declaram que é a saúde da família.

O secretário estadual de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Aldo Bona, aprovou os resultados e propôs que o levantamento seja feito em todo o Paraná já no primeiro semestre de 2026. Ficou decidido que a Seti vai liberar R$ 550 mil para o IDR-Paraná dobrar o número de bolsistas envolvidos no projeto. E o Instituto vai disponibilizar os outros R$ 300 mil necessários para agilizar o processo. “A minha ideia é concluir o censo até agosto para ser deixado como um legado para ajudar o próximo governo a estabelecer diretrizes para a produção de orgânicos no estado”, afirmou Bona.

Para o Diretor-presidente do IDR-Paraná, a parceria com a Seti é um processo importante para o estado, que torna possível a certificação das propriedades com cultivo orgânico. “O Paraná avança rapidamente nesse conceito de produção mais limpa por uma série de questões que foram demonstradas nesse diagnóstico, que passa pela saúde da família dos agricultores, pela renda e que tem no norte pioneiro hoje um dos esteios do estado. A extensão desse processo para outras regiões vai permitir o aprofundamento do tema. Então nós ficamos felizes pela reunião e mais felizes ainda por poder estender esse diagnóstico para as demais regiões do estado, em especial para a metropolitana de Curitiba”. Segundo Souza, esse levantamento também pode ajudar numa outra questão que o tem preocupado bastante: o envelhecimento do agricultor. “A agricultura do Paraná é uma agricultura exitosa do ponto de vista da balança econômica do estado, mas tem algumas questões que precisam ser aprimoradas, uma delas é você ter qualidade de vida e renda suficiente para atrair os jovens, porque senão você fica com uma agricultura envelhecida. E a gente tem consciência de que uma produção mais limpa, mais agroecológica, mais orgânica é um caminho de você segurar o jovem no campo então a gente tem essa convicção da importância da produção orgânica na sucessão familiar”, concluiu.