Produtor de Campo Largo investe no cultivo de araucária enxertada 15/05/2023 - 16:30

 

Processo reduz o tempo médio necessário para que a árvore comece a dar frutos. Árvores convencionais precisam de 12 a 15 anos para começarem a produzir, já as enxertadas podem florescer com apenas quatro anos.

Osvaldo Sikora tem uma propriedade rural na comunidade Dom Pedro II, em Campo Largo. Pensando em aproveitar melhor a área fez algumas pesquisas e, há dois anos, o produtor decidiu investir no plantio de araucária. O objetivo é formar um pomar para produzir pinhão de olho no interesse dos consumidores. Para acelerar o processo, o agricultor optou por plantar mudas enxertadas. Se tudo correr bem, a primeira produção de pinhões deve acontecer daqui a três anos ou quatro anos.

O interesse de Osvaldo pelo plantio de mudas enxertadas surgiu quando conheceu o trabalho desenvolvido pelo professor Flávio Zanette. Há 34 anos, o professor pesquisa a araucária e desenvolveu a técnica de produção de mudas enxertadas que possibilita árvores mais baixas e que produzam pinhões em menos tempo. Alguns exemplares chegam a florescer com apenas quatro anos, enquanto as araucárias sem o enxerto precisam de 12 a 15 anos para produzirem o pinhão.

Formação do pomar - A araucária tem a característica de possuir árvores do sexo masculino e feminino. Para que seja possível a produção dos pinhões é necessário ter plantas dos dois sexos na mesma área. Osvaldo adquiriu 87 plantas femininas em julho de 2021, que foram plantadas logo depois do período de geadas. Em agosto do ano passado foi a vez de plantar outras doze mudas masculinas, distribuídas pela mesma área. “Eu mantenho as araucárias no limpo (sem mato ao redor) e tenho feito adubação conforme orientação. A área ocupada pelas mudas é de cerca de meio hectare ou cinco mil metros, além disso na reserva legal da propriedade também existem alguns pinheiros nativos”, explicou Osvaldo.

O plantio das mudas enxertadas foi feito de acordo com as recomendações do técnico Vanderlei Peres, do IDR-Paraná (Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná – Iapar-Emater) de Campo Largo que acompanha a propriedade. Ele informou que o manejo do pomar de araucárias consiste em fazer o coroamento das mudas, deixando-se um círculo sem vegetação ao redor da muda até que a planta ganhe força para se desenvolver de maneira satisfatória. Ao menos quatro vezes ao ano é preciso fazer a manutenção do coroamento. Além disso, o produtor também retira os galhos do porta-enxerto, o cavalo, para que somente a copa se desenvolva. “As mudas estão se desenvolvendo muito bem. Na média, as plantas cresceram um metro, em um ano e meio”, observou Peres. Ele informou ainda que no início do plantio houve um período de estiagem, o que obrigou o produtor a fazer a irrigação manual. Com isso as plantas puderam passar pelo período de estiagem sem grande dificuldade. Segundo pesquisas da Embrapa Floresta a produtividade das mudas enxertadas de araucária pode chegar a 20 kg por árvore no primeiro ano, aumentando com o decorrer do tempo.

A intenção de Osvaldo é vender a produção de pinhão para supermercados locais. Ele também deve se associar a uma cooperativa de Rio Branco do Sul que faz o beneficiamento da semente, com o cozimento e embalagem a vácuo da semente. Outro segmento que Osvaldo pretende atender é a merenda escolar, já que o pinhão foi incluído no cardápio de muitas escolas. “Essa propriedade é herança de família. Sei que daqui a cinco ou seis anos posso ter algum retorno com a venda de pinhão ou não. Se não der o resultado esperado, pelo menos terei um bosque de araucárias bem bonito”, afirmou Osvaldo.

Preservação ambiental e cultural -De acordo com a Embrapa Florestas, a araucária é, certamente, uma das espécies florestais mais emblemáticas para a população em geral. Seu uso indiscriminado, desde a segunda metade do século XX, a levou para a lista de espécies ameaçadas de extinção. Por isso mesmo, diversas iniciativas procuram estimular novos plantios e a possibilidade de uso e geração de renda com a espécie. É a chamada “conservação pelo uso”. Para isso, a pesquisa vem estudando como a araucária pode voltar a participar do cenário econômico, de forma sustentável.

Transformar a araucária numa espécie cultivada, produtiva e lucrativa, é uma forma de preservar a espécie tão cara para o meio ambiente, sobretudo nos estados do Sul do Brasil. Além disso, o consumo de pinhão faz parte da cultura de muitos estados. De acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o Paraná é o maior produtor de pinhão do país. Na safra 2021, foram 4.018 toneladas. Em seguida vêm Santa Catarina (3.916 T), Minas Gerais (3.464 T), Rio Grande do Sul (1.081 T) e São Paulo (5 T).

Outras ações – O Instituto Água e Terra (IAT) também possui um programa de recuperação da Floresta com Araucária. Somente no ano passado foram doadas 127.760 mudas da árvore, popularmente conhecida como Pinheiro do Paraná, pelo IAT. Neste ano, entre janeiro e início de maio, outras 24.896 mudas foram retiradas pela população. Em ambos os períodos, ela foi a espécie ameaçada de extinção mais procurada nos 19 Viveiros Regionais que formam a Gerência de Restauração Ambiental do órgão ambiental

Os viveiros produzem mais de 100 espécies nativas diferentes, 25 delas são consideradas ameaçadas de extinção. A capacidade de produção é de até 5 milhões de mudas/ano. Dois laboratórios de sementes completam a estrutura do Estado.

A proposta de recuperação da Floresta com Araucária integra o Programa Paraná Mais Verde, lançado em setembro de 2019 para celebrar o dia da árvore. O programa tem por objetivo despertar a consciência ambiental e aliar desenvolvimento ambiental, econômico e social.